sábado, 4 de outubro de 2008
Bioinvasão
Um dos elementos críticos na globalização da economia é o movimento de organismos nocivos ou de Espécies Invasoras Exóticas (EIE), de uma região para outra, em função do comércio, transporte, trânsito e turismo. Bioinvasão ou bioglobalização de pragas refere-se, portanto, ao deslocamento de organismos vivos de uma região para outra, inadvertida ou intencionalmente, podendo resultar em prejuízos incalculáveis nos âmbitos ambiental, econômico, social e cultural. O termo “bioinvasão” é também utilizado para explicar a introdução e ou dispersão de pragas ao redor do mundo.
A definição de EIE para a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) e a definição de pragas quarentenárias no âmbito da Convenção Internacional de Proteção dos Vegetais (CIPV) são comparáveis e se relacionam às mesmas ameaças. Ambas as definições envolvem qualquer organismo que causa danos a plantas e cuja introdução e ou dispersão ameaça a diversidade biológica, resultando ou não em impacto socioecnonômico e ambiental. Pode-se argumentar que a maioria das pragas quarentenárias constitui uma EIE e que essas espécies que causam injúrias diretas ou indiretas para plantas são pragas quarentenárias.
Na área vegetal, o termo praga é utilizado no sentido amplo da palavra, conforme a definição da CIPV, envolvendo os ácaros, insetos, fungos, bactérias, vírus, viróides, fitoplasmas, nematóides, plantas infestantes ou qualquer outro organismo capaz de causar danos aos vegetais e seus produtos. No entanto, as áreas de saúde humana e animal, utilizam à terminologia doença ou enfermidade ou epidemiologia para se referir aos organismos que causam efeitos deletérios a pessoas e animais.
Um exemplo clássico do efeito de uma bioinvasão na agricultura é o da batata (Solanum tuberosum) que foi introduzida na Irlanda entre os séculos XVI e XVII, tornando-se o alimento básico de mais de três milhões de pessoas. Nos Estados Unidos da América (EUA), esse tubérculo também passou a ser utilizado na alimentação dos colonizadores vindos da Europa. Em 1843, o fungo P. infestans foi relatado nos EUA ocorrendo em batata e em 1845 foi introduzido na Irlanda. Nos EUA, os problemas advindos da introdução e dispersão do fungo foram menores, por disporem, naquele país, de uma maior variedade de produtos para alimentação. Entretanto, na Irlanda, os seus efeitos foram devastadores. Entre 1846 e 1850 ocorreu a “grande fome”, levando à imigração de mais de 1,5 milhões de pessoas para a América do Norte e Austrália e a morte de milhares de outras. Até os dias de hoje a Irlanda padece dos efeitos devastadores causados pela requeima da batata, que provocou a imigração da maioria da população para outras regiões do mundo. No processo da bioinvasão, dificilmente a praga será erradicada e dessa forma poderá provocar uma nova epidemia, como a que ocorreu com o fungo da batata 150 anos após a fome irlandesa. Perdas provocadas pelo fungo em cultivos de batata surgiram novamente no início da década de 1980, primeiramente na Europa e, em seguida, no Oriente Médio, países asiáticos, Canadá e Estados Unidos.
(Texto extraído do livro: OLIVEIRA, M. R. V. et al. Segurança biológica para o agronegócio e meio ambiente. Brasília (DF). Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. 2006. CD ROM. 293p.)
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