segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Genética Forense

A ciência forense está passando por um período de rápida mudança devido à dramática evolução dos perfis de DNA. A sensibilidade e discriminação das técnicas, agora de uso rotineiro em muitos países, era impensável há dez anos. DNA passou a fazer parte do vocabulário do homem comum, talvez não somente pelo belíssimo trabalho de pesquisadores como Watson e Crick, mas muito mais devido ao impacto dos perfis de DNA sobre a detecção de crimes.
Uma das conseqüências dessa nova tecnologia para o cientista forense é que o poder da evidência apresentada na corte é normalmente expressa numericamente. Embora isso tenha sido o caso para técnicas sorológicas convencionais por décadas, existem agora duas diferenças: a escala de implementação dos novos métodos e o enorme poder da evidência. Uma coincidência entre os perfis de uma amostra biológica da cena de um crime e a de um suspeito tem sido mostrado em várias cortes e jurisdições. A amostra tem suficiente valor probativo para convencer um júri de que veio de um suspeito, sem necessidade da corroboração de evidência não-científica. Freqüentemente, é levantada a questão sobre se o perfil de DNA “é tão bom quanto as impressões digitais?” Como muitas questões aparentemente simples, essa tem uma resposta complexa, no entanto ela nos dá a oportunidade de refletir sobre um importante paradoxo.
Muitos compartilharão o ponto de vista de que o perfil de DNA é o maior avanço em ciência forense, desde a aceitação da impressão digital como identificação pelas cortes no início do século XX. Desde aquele tempo, milhares de opiniões foram dadas por peritos em impressões digitais. Uma opinião com base em impressões digitais nunca é um meio termo – é categórica, “aquelas duas marcas foram feitas pelo mesmo dedo”. Isso é aceito pelas cortes ao redor do mundo, em muitos casos sem contestação, e a introdução original desse tipo de evidência foi, aparentemente, sem problemas. A justificativa estatística para a identificação por impressões digitais foi vaga e, principalmente, teórica.
O perfil de DNA, por outro lado, recebeu um 'batismo de fogo'. Por alguns anos, era convencional se referir à “controvérsia do DNA” e em alguns países têm havido longos e amargos confrontos. Por sua vez, a controvérsia tem contribuído para a explosão da literatura sobre a matéria. Centenas de artigos foram publicados sobre estatística de perfis de DNA, muitos lidando com coleções de dados, muitos outros, com considerações teóricas de probabilidade, estatística e genética. Embora houve situações onde a controvérsia se tornou acrimoniosa e a afirmativa extraordinariamente estressante, muitos agora concordariam que a extensão deste debate foi boa para a ciência. Sabemos que o perfil de DNA está aqui para ficar e que a estatística das técnicas correntes foi estabelecida como robusta. Agora nós podemos dizer que entendemos muito mais de estatística de perfis de DNA do que sobre qualquer outra técnica forense, incluindo impressões digitais.
Interpreting DNA Evidence: Statistical Genetics for Forensic Scientists by Ian W. Evett, Bruce S. Weir Tradução e adaptação de L. Mauricio-da-Silva e colabs

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